Consumo
Água: desafios a vencer
Estudo da Trata Brasil mostra que Pelotas precisa superar algumas barreiras quando o assunto é a distribuição
Apesar dos avanços observados em Pelotas em relação ao fornecimento de água, ainda há muitos desafios a serem vencidos. Conforme estudo aplicado pelo Instituto Trata Brasil em cem cidades, Pelotas ficou em primeiro lugar no quesito faturamento total, como a que menos perde receita. No entanto, foi mal quando o assunto é desperdício e investimentos, ficando em 70ª posição no ranking geral. Mesmo o bom desempenho em faturamento é considerado ilusório pela direção do Sanep, tendo em vista as distorções geradas pelo antigo sistema de cobrança - o levantamento considera dados de 2014 -, baseado em créditos e na área construída. Reflexões para serem feitas nesta terça-feira, Dia Mundial da Água.
Hoje, quase 50% do produto tratado pelo Sanep nem chega ao consumidor e fica em algum ponto dos 850 quilômetros de tubulações formadoras da rede de distribuição. Apesar de cobrir toda a cidade e ter um orçamento anual superior a R$ 90 milhões, a autarquia também enfrenta problemas em relação aos investimentos. Há dois anos apenas 5% dos valores arrecadados pelo Sanep eram aplicados em melhorias, enquanto 95% eram utilizados para cobrir os custos de operação. Nessa conta pesam os gastos com o tratamento de resíduos sólidos e a macrodrenagem, responsáveis por consumir 32,2% do orçamento.
De acordo com o diretor-presidente do Sanep, Jacques Reydams, se as despesas da autarquia envolvessem apenas a água e o esgoto seria possível investir, já que os dois segmentos possuem receita. No entanto, o fato de a prefeitura não cobrar pelo lixo, por exemplo, acaba sobrecarregando as despesas. O órgão deve encerrar 2016 com prejuízo superior a R$ 4 milhões devido à queda nas receitas e ampliação das despesas com tratamento de lixo e drenagem. Questionado sobre as perdas na distribuição - que se evitadas poderiam ajudar a equilibrar as contas -, Reydams confirma a intenção de reforçar os investimentos na melhoria das redes sem, no entanto, dar prazo para isso.
Desperdício
Atualmente, Pelotas possui quatro Estações de Tratamento de Água (ETAs): Santa Bárbara, Moreira, Sinott e Quilombo, e investe na construção de uma quinta, a São Gonçalo. Juntas, as quatro existentes produzem mais de 102 milhões de litros por dia, o que equivale a 295 litros por habitante/dia. Apesar da grande produção, nem todo esse volume chega às residências. Dos 102 mil metros cúbicos de água tratados e distribuídos diariamente pelo Sanep, mais de 49,6 mil metros cúbicos nem chegam aos clientes. São desperdiçados por problemas na distribuição, o que inclui vazamentos e ligações irregulares.
O fato acaba não pesando tanto sobre as contas da autarquia porque a cobrança não é feita por consumo, mas sim baseada em um crédito mensal de 20 metros cúbicos - cerca de 20 mil litros - por cliente. Ou seja, o consumidor só vai pagar excesso de consumo caso ultrapasse esse limite, considerado alto demais pela autarquia. Nesse modelo, o consumidor pode gastar mensalmente 12 mil litros de água - 400 litros por dia - sem pagar a mais, o que acaba incentivando o desperdício e o mau aproveitamento do produto.
Novo sistema
Através do novo sistema de cobrança por consumo, programado para iniciar em maio desse ano, a população vai pagar pelo total usado, o que deve incentivar a economia de água. Por outro lado, as perdas na distribuição terão mais peso nos custos do Sanep, já que a autarquia vai receber por apenas metade do total tratado. Frente a isso, casos como os observados na rua Marechal Deodoro, entre as ruas Barão de Azevedo Machado e Leonardo Colares, na rua General Argolo, entre as ruas Santos Dumont e Professor Araújo, e em vários outros pontos da cidade deverão ser rapidamente solucionados para evitar o desperdício de água.
Na Deodoro, por exemplo, moradores e comerciantes convivem há anos com o vazamento de água e esgoto. O fato já teria sido informado diversas vezes ao Sanep. Uma moradora da rua General Argolo - ela preferiu não se identificar -, afirma conviver com o escoamento constante desde setembro do ano passado. Segundo ela, depois de três meses de tentativas frustradas, o pedido de reparo foi finalmente protocolado no dia 29 de dezembro, mas, até o momento, nada mudou. De acordo com o órgão, a demanda é grande - cerca de 300 pedidos de reparo de vazamentos -, o que dificulta a resolução de todas as pendências.
Prevista para começar a ser aplicada dentro de dois meses, a nova fórmula deve gerar alguns conflitos. Pelo menos essa é a expectativa de Jacques Reydams. Para ele, quem está acostumado a usar água sem controle vai sentir o impacto na conta, o que deve estimular a economia. Além disso, a estimativa é de que a autarquia passe a arrecadar, pelo menos, 10% a mais com o pagamento dos serviços de fornecimento de água, coleta e tratamento de esgoto. “Estamos fazendo uma série de adaptações da forma de gestão para nos adequar. Foram 40 anos fazendo de um jeito, também precisamos nos acostumar.”
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